O sussurador
O cavalo tinha o pelo tão preto quanto o carvão. Olhos assustadiços, em constante movimento, sarapantados, em permanente estado de alerta, como se estivesse buscando um ponto de fuga. As orelhas moviam-se em todas as direções, captando todo e qualquer som ao redor. Quando tentaram pegá-lo para domar, defendeu-se com o vigor dos coices e saltos e com as mordidas, que distribuía a granel. Um dos homens teve uma perna quebrada e por isso desistiram de amansá-lo e passaram a chamá-lo de Diablo. Naqueles tempos de fronteira indefinida, onde os ermos da pampa não tinham cercas, e os horizontes alongavam-se a perder de vista, era comum que, vez por outra, surgissem andarilhos em busca de ocupação – na maioria das vezes em troca de um teto e um prato de comida. Foi assim que apareceu Miguel. Quando perguntaram pelo sobrenome, respondeu que era Miguel e só. Franzino, meio índio, cabelo liso, tão escuro quanto o pelo do cavalo, escorrido até os ombros e preso por uma vincha de tento ...